segunda-feira, 30 de junho de 2014

Jovem cinéfilo apresenta: “KIKA”- um filme de Pedro Almodóvar


Resenha sobre o Filme KIKA (1993) do diretor espanhol Pedro Almodovar. (Contém Spoiler)
Desafio proposto pelo Professor Everson (Estética da Arte II)
Autor: Lucas Andrade Alvaro (Aluno de Artes Visuais-manhã))


Personagens peculiares, tabus inquestionáveis (será?), problemas fúteis que tomam proporções gigantescas e a capacidade para transformar o trágico em algo engraçado, Pedro Almodóvar dirige Kika, uma curiosa e surreal comedia dramática. 
            É complexo definir exatamente essa obra, Almodóvar se sente a vontade para brincar com o espectador, o provocando com o trágico que se torna cômico, com o prazer na observação das pessoas (Voyeurismo), com um enredo simples que acaba se tornando mirabolante.
Na película, Kika é uma maquiadora que é convidada pelo escritor Nicholas para ir a sua casa, mas não para um encontro, mal sabia que era apenas para maquiar o recém-falecido enteado do escritor.
Ramón, o enteado que sofre de catalepsia e que aparentemente estava morto, acorda durante a maquiagem, sendo esse o inicio de um relacionamento com Kika, relacionamento com traições, desejos oprimidos etc. Tamanha complexidade do dialogo do filme se mostra em muitas sequencias, e o diretor tira escarnio até de algo muito comentado na cultura popular, em certo momento Kika diz que trair o namorado é uma coisa, mas uma amiga lhe trair é bem pior, essa cena brinca um pouco como é vista a amizade feminina em geral, com intrigas e estereótipos.(Para continuar lendo o texto clique em mais informações)
Kika mantém um relacionamento secreto com Nicholas, mas sempre pronta para defender o que sente pelo enteado do mesmo. Já Ramón, é um jovem com sérios problemas desde o suicídio de sua mãe, sendo perturbado por Andrea Caracortada, apresentadora de um programa sensacionalista, alias, não só ele como também Kika. Andrea é de fato uma critica engraçada a mídia em geral, não importa o que tenha que fazer para ter um furo de reportagem, ela fará, mesmo que isso custe sua dignidade ou corrompa seu caráter (oi? ela tem isso?).
Referente a essa quebra de tabus, o filme por si só já representa isso, a empregada de Kika, por exemplo, Juana que é lésbica e admite que já teve relações sexuais com o próprio irmão, algo que seria visto com total repulsa é tratado como um assunto qualquer. Tal irmão que em certo momento foge da prisão em que estava, e ao ir ver a irmã na casa de Kika, acaba estuprando a protagonista, mais uma vez algo perturbador é tratado com humor, algo curioso já que um ato de extrema violência conseguiu ser transformado em uma cena de alivio cômico.
A essa altura do filme, sabemos o quanto Ramón é submisso, tanto a Kika como as pessoas a sua volta, sendo sempre perseguido por seus pensamentos referentes à culpa do padrasto na morte na mãe, a dor de perder a mãe daquela forma, o fato de acreditar que ela não o amava tanto quanto ao padrasto, e ao seu prazer em observar os outros. Em certo momento, enquanto observa Kika, a vê sendo estuprada e apenas liga para a policia, sem sequer ir ajuda-la.
Nicholas é outro, que se mostra um bom homem no inicio, mas no decorrer do filme vai se revelando mulherengo, traidor e até mesmo assassino. Esse fato brinca com nossa percepção, daquilo que vemos, mas ignoramos sem ao menos perceber, uma sociedade bem mascarada, não?!
Kika é filme que pode ser considerado brega, envolvente e muito sarcástico, até mesmo o clímax do filme é inesperado, brinca com clichês, mostrando a loucura humana, o quanto somos fracos, que tudo vale por nossos objetivos. Ao fim, Kika parece ser a mais esperta, fugindo da dor para ir a uma festa, aparentando algo surreal no contexto da película, mas sendo uma escolha muito mais sensata.



Lucas  Andrade Alvaro é aluno do 6º termo de Artes Visuais, amante do bom cinema, desenhista (especialidade Mangás), não dispensa uma boa leitura e está sempre disposta a compartilhar seu conhecimento.

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